Quando me lembro do meu pai
Quando olho para o quarto dos meus sobrinhos e me lembro que, antes, foi o quarto dele. Quando tomo café da manhã e pego a sua caneca do Dom Pedro II sem nem perceber. Quando os Beatles tocam na rádio. Quando o Tico e Teco aparecem na TV. Quando fui na casa das minhas amigas e vi que elas tinham um vinil de Roque Santeiro. Quando minha irmã me perguntou se sonho com frequência e respondi que não. Quando um dos meus sobrinhos fazem careta para mim. Quando olho para meu dedo polegar. Quando me vejo no espelho. Quando rezo. Quando durmo. Quando acordo.
Como é possível alguém ser o melhor pai do mundo um dia, me deixando brincar no seu colo mesmo estando cansado e com as pernas doendo de uma doença que eu, criança, ainda não entendia? Como que, no dia seguinte, ele vira um pai fraco, vulnerável, acamado, que quase não é mais pai? E como, no dia seguinte, ele simplesmente se vai?